segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sábado, 04: Algumas recorrências e novos territórios

Sábado passado: um suspiro poético
Por Kil Abreu
fotos: Thiago Araújo
Os dois primeiros espetáculos do sábado já se apresentam como recorrências, em parentesco com dois outros já vistos no Festival: A mulher das sete saias e Amor Palhaço. Há, claro, similaridades de linguagem, mas os projetos artísticos são diferentes. No primeiro caso o similar está no uso dos espaços íntimos (tanto no sentido do espaço físico como dramatúrgico); e no segundo caso, as aproximações do clown.
Sábado Passado é parte integrante de um conjunto de solos. Para esta cena demandada pela idéia de uma dramaturgia do ator – sempre rica e arriscada – foram convocados textos de Beckett e Drummond, entre outros, amalgamados aos depoimentos de Margaret Gondim. O que de imediato chama a atenção é o espaço, a sala da casa da atriz, tão compatível com o material literário, narrativas poéticas, que logo inspira a forma do relato, o jeito de conversa, a expressão oral em “tom menor”. Apresentado para não mais que uma dúzia de pessoas, o solo se constrói inteiro em uma medida que lhe oferece a unidade: assim como o espaço é pequeno, o tempo da representação é brevíssimo (menos de meia hora) e a relação com a platéia é direta, ao ponto do toque físico, próxima e delicada.
A escolha do local é significativa por si. Por um lado adiciona à dramaturgia uma camada a mais de significado e por outro cria as condições para que a fala, costurada sempre nas bordas do lirismo, possa procurar as suas intensificações em um a escala inusual para nós. Trata-se de um lugar com memória, com uma história própria, contada nos móveis e apetrechos, tomados estes também como depoimento. É assim que alguma estranheza produtiva se instala. Habituados que estamos em identificar e “separar” de imediato aquilo que é signo cenográfico, artifício criado para a cena, somos chamados a procurar e a descobrir a função de significado em cada objeto da sala. É quando o espetáculo, ainda que minimalista, se abre em possibilidades infinitas. Pois não há como dotar de significado aquele mundo tão particular sem colocar à prova os nossos próprios mundos afetivos.

Articulada em um discurso de lirismo, a intervenção passeia suas imagens abstratas e provocativas no corpo e na presença forte da atriz – voz grave, gestualidade entregue – e nos convida a usufruir imagens que se emprestam, naquele relato, à construção dos nossos próprios. Como é uma peça breve ficamos na expectativa dos outros solos – vontade de viver esta semana inteira, de domingo a sábado.

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