segunda-feira, 6 de julho de 2009

Chuva Leva os Notáveis Clowns para o Teatro Waldemar Henrique


Em busca de um lugar na corda: os clowns “papa-chibé

por Kil Abreu
fotos: Thiago Araújo

Não fosse a licença clássica que a comédia oferece generosamente aos que se dedicam a criá-la, o espetáculo começaria já com um algo inacreditável: três palhaços paraenses que não sabem o que é o Círio. Mas, ao contrário, é este “faz de conta que pode ser assim” o que oferece o efeito cômico essencial, desenvolvido durante toda a trajetória. É de fato cômico, pela surpresa e pelo contraste, que os três tipos de comportamento insuspeito desconheçam os rituais. A tomar por este espetáculo os Notáveis Clowns são palhaços mais próximos ao circo tradicional que seus companheiros de arte e labuta, os Palhaços trovadores. Nestes últimos é mais evidente o exercício da estilização, a formalização do repertório que se preocupa mais em preservar o espírito que os procedimentos palhacísticos tradicionais. Já os Notáveis lembram mais de perto a coisa do picadeiro, seus números e gags. Não há em princípio um juízo de valor quanto a isto, pois há tarefas artísticas igualmente importantes em uma e outra vertente.

Nesta eleita pelo grupo de João Guilherme há ainda a necessidade de afinação em um aspecto fundamental e, no caso, indisfarçável: a sustentação do efeito cômico. Mesmo que se contabilize a favor do espetáculo o excelente argumento e o talento dos seus componentes, nos pareceu, ao menos nesta apresentação do Festival, que a montagem ainda se mantém em altos e baixos. E como os momentos altos são realmente bons, risíveis e comoventes, só fazem contrastar ainda mais aqueles outros em que, como diria Peter Brook, fica faltando a “centelha de vida”, aquela chama acesa permanentemente no espaço entre o palco e a platéia, do início ao fim da representação, e que ao menos idealmente não deve se apagar. O esforço do ator, independentemente do gênero, seria o de manter essa chama, que às vezes é labareda espetacular, às vezes discreta faísca, mas sempre potente.

Para isso, nas coordenadas que se oferece, talvez seja preciso chamar mais à função a direção do espetáculo, que tem algumas tarefas: olhar para os tempos das cenas (aqui não seria demais repetir o lugar comum entre o pessoal de teatro, de que na comédia o tempo é tudo) e para o que pode ser retomado no trabalho dos atores quanto a detalhes mais de ordem técnica, como a intensificação da voz no espaço e uma disposição mais decidida para o improviso. O grupo, que tem em sua bagagem os valores acumulados por uma história e uma pesquisa, certamente trabalha no ajuste deste repertório, que vai respaldar ainda mais algo inegociável e igualmente valioso, que está para além das montagens em particular: o projeto artístico da companhia, que aqui tem corpo, coerência e propósito.

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